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A Origem: Uma Experiência Fantástica

por Camila Jardim, 11 de ago. de 2010

A mente humana é sem sombra de dúvidas uma coisa fantástica. A peculiaridade de cada personalidade e a força do instinto primitivo se perde e se encontra como em um encanto. Ao explorar essa força que se rege sozinha temos geralmente grandes histórias com um vasto conteúdo, que atingem a praticamente todos por sua sacada elaborada ou grosseira, mas que em algum momento se prendem a realidade de cada espectador, dando ao filme a força que ele clama.

Quem me conhece sabe que se tem uma coisa que eu não suporto em filmes são aqueles se baseiam praticamente todo seu processo em um sonho. Especificamente aquele tipo que depois de duas horas de trama confusa o fulano acorda, desperdiçando todas as teorias malucas que você imagina na sua cabeça pra matar a charada.

Não que sejam menos interessantes por se tratarem de sonhos, mas é de certa forma, covarde. Sonho não é realidade, logo tudo que acontece nele, não precisa necessariamente de uma explicação, porque afinal, era tudo um sonho. Tudo pode acontecer em filmes como esse, e enquanto nós tecemos uma linha de conspiração para solucionar o mistério, ele simplesmente não existe.

A Origem seria mais um desses filmes que pra mim perderiam o valor exatamente por usar este elemento, mas Christopher Nolan com toda sua genialidade mais uma vez conseguiu me conquistar. O filme consegue unir a mente humana, os sonhos e efeitos especiais magníficos, atingindo praticamente 99,9% dos que assistem pela inteligência e o labirinto criado.

Em um mundo onde a tecnologia está mais avançada e uma máquina de sonhos é criada permitindo que pessoas sonhem juntas e criem todo um mundo novo, Dom Cobb (Leonardo DiCaprio) se torna mestre na arte de roubar idéias diretamente da fonte usando esta máquina. Enquanto dormimos, nossa mente entra em um estado extremamente vulnerável criando o ambiente perfeito para Cobb penetrar e extrair as idéias, geralmente em missões pagas por alguém. Depois da morte de sua mulher ele se torna um ladrão foragido que permanece em meio a seus devaneios e dúvidas entre realidade e sonho.

O principal problema do personagem é seu passado. Sua já falecida esposa Mal (interpretada pela talentosíssima Marion Cotillard) aparece o tempo todo em seus sonhos, pregando peças no subconsciente de Cobb o tempo todo. Após ser desmascarado em seu ultimo trabalho, Cobb é coagido a aceitar uma proposta totalmente inusitada de sua quase vítima. Saito (Ken Watanabe) oferece ajuda em meio a seus contatos para limpar o nome de Cobb, mas em vez de roubar uma idéia da mente de alguém ele tem que implantar uma. Por mais que o amigo e parceiro Arthur (Joseph Gordon-Levitt) diga que não é possível, Cobb se vê seduzido pela oportunidade de voltar pra casa e rever seus dois filhos e entra de cabeça em uma operação perigosa e desafiadora.

Para isso acontecer ele precisa montar uma nova equipe, assim convence o falsificador Eames(Tom Hardydigam) a se juntar a ele na missão. Eames tem uma grande habilidade de falsificar pessoas. Ao estudar seus trejeitos e personalidade, consegue se materializar em sonho com a aparência do sujeito pretendido. Yusuf (Dileep Rao) é um especialista em “drogas”. O procedimento para sedar os envolvidos no sonho coletivo e faze-los dormir o quanto precisar é responsabilidade dele. Arthur entra com o planejamento da missão e precisa pesquisar minuciosamente o passado e o presente da “vítima” para que a equipe possa criar ilusões com a mínima margem de erros. O elo entre o filme e nós telespectadores é a novata Ariadne (Ellen Page), contratada para o serviço de “criadora de sonhos” após Cobb perder seu Arquiteto.

Por mais que seja confuso em algum momento por ter milhões de informações sendo jogadas na tela a cada segundo, não é completamente absurdo e sem explicação se você parar um segundo pra pensar. Ariadne faz um papel essencial – ou não - no filme, ela está ali pra questionar, gerando explicações sobre tudo o tempo todo. Tirando o final que foi feito pra ter dúvidas, o filme inteiro, ou quase todo, é explicado nos mínimos detalhes.


A quantidade de informações e o ritmo alucinante nos fazem perder coisas básicas e explicadas durante as duas horas e quarenta minutos de projeção. São normalmente descritos todos os processos e as regras. Se prestar atenção, absolutamente nada fica sem uma breve introdução. No final das contas, o que tende a pirar a cabeça é a forma como as mesmas são dadas e o tempo que leva pra processar a informação. Enquanto você tenta entender uma das regras do jogo, a próxima já esta sendo jogada na tela. O que falta é tempo pra assimilar o que lhe foi mostrado.

A Origem é escrito, produzido e brilhantemente dirigido por Christopher Nolan, responsável por pérolas como o fantástico “O Grande Truque”, “Amnésia” e o magnífico “Batman – O Cavaleiro das Trevas”. Nomeado a 42 prêmios, inclusive uma indicação ao Oscar, levou 36 deles pra casa. Mais um filme para consagrar a carreira brilhante de Nolan, que inteligentemente barrou o artifício 3D no filme por achar que distrairia muitas das pessoas, tirando todo o foco da história. Acertou em cheio Sr. Nolan. Parabéns por não aderir a esta moda, que na maioria das vezes não tem propósito algum, mas se pensarmos por um segundo seria no mínimo interessante ver o mundo dos sonhos sendo criado em três dimensões.

A escolha da trilha sonora é surreal, tendo usos diversos durante toda a trama. Por vezes feita pra emocionar, outras para criar tensão e assustar, ela ainda conduz as cenas de ação como se fosse um personagem vivo. Os efeitos especiais são quase reais. Em nenhum momento se percebe qualquer recurso computadorizado, fazendo crer que aquilo realmente foi filmado daquele jeito. Palmas e mais palmas. O filme consegue se tornar fantástico somente pelo efeito que causa em quem assiste, causando êxtase total.

O elenco é escolhido a dedo, tendo como grande parte, rostos conhecidos no mundo inteiro, e a outra parcela dona de um talento absurdo. Leonardo DiCaprio foi a primeira e única escolha do diretor, seu personagem lembra muito Edward Daniels, seu personagem em “A Ilha do Medo”. Definitivamente não é o melhor personagem de sua carreira, mas inevitavelmente irá lhe render muitos frutos.

Nolan ainda considerou interpretar Arthur, mas desistiu devido à falta de compatibilidade de tempo. Ao contrário da jovem Ellen Page, que só foi escolhida em decorrer da desistência de outras atrizes, e que talvez seja o ponto mais fraco do enorme quebra-cabeça que é o filme. Nolan queria Evan Rachel Woods, mas esta não aceitou o papel, o que o fez considerar ainda Emily Blunt, Rachel McAdams e Emma Roberts. Porém, acabou ficando com Ellen, que faz um ótimo trabalho, mas não a altura de seus companheiros.

Tenho que confessar que por poucas vezes achei cansativo e, acredite se quiser, um tanto previsível. Não a história em si, mas algumas cenas. O mundo dos sonhos e do subconsciente é incrível, e nas mãos de Nolan virou quase uma religião. Por mais que alguns considerem o melhor filme da década, fica ainda minha dúvida. Apesar de não conseguir definir nem um top três de favoritos, ainda acho que em “O Grande Truque” Nolan foi melhor. A Origem te ganha em todos os detalhes e é grandioso devido ao imenso elenco estrelado e efeitos especiais de tirar o fôlego. Como antes citei: o complicado fica por conta da velocidade em que a informação chega e não na informação –ou falta dela- em si.

O desfecho do filme deixou todo o cinema de boca aberta e cabeça girando. Eu e um amigo que me acompanhou começamos a formar teorias e descobrir a faceta do filme, criando algumas baseadas nas informações que tínhamos entendido e lembrado. Como li por ai, cada qual acha que entendeu uma coisa, mas seja qual for (tirando a alternativa do meu amigo), o filme termina de forma triunfal.

ATENÇÃO SPOILER – a seguir uma teoria sobre o final do filme, leia por sua conta e risco...

Enquanto meu amigo dizia que tudo não passou de um sonho desde o começo, e que tudo que aconteceu depois é simplesmente fruto da piração do limbo. Já eu, imaginava que tudo foi real até a hora que eles acordam no avião. Cobb e Saito ficaram presos no limbo e o que passou depois foi apenas fruto da projeção dos sonhos. Fato pra mim explicado quando o peão não para de rodar, mas se prestar bem atenção o corte abrupto da cena para o surgimento dos créditos não da o tempo necessário para o peão tombar pro lado, o que gera a grande dúvida de praticamente todo mundo. Afinal ele voltou ou não pra realidade? Dando uma pesquisada achei algo que somente revendo o filme serei capaz de perceber: Cobb só usa sua aliança enquanto sonha, logo o final sem a aliança sugere uma realidade.

Depois de pensar por algum tempo compreendi que a complexidade do final não estava no quando, onde e porque, estava na brilhante idéia de criar um final que agradaria a todos. Pense bem, os otimistas seguidores de finais felizes tipicamente hollywoodianos pode acreditar que o peão poderia ter caído se o filme não tivesse acabado, e que Cobb viveria feliz pra sempre com seus dois filhos. Os mais pessimistas e fanáticos por um final não convencional simplesmente aceitam que o peão continuou rodando indefinidamente, caracterizando que Cobb ficaria pra sempre preso em seu próprio sonho. Não é brilhante?

Mas o que poucos percebem é que o final pouco tem a ver com os sonhos ou a realidade propriamente dita. Se pensar bem o que verdadeiramente marca o incrível final é a mudança do personagem, Cobb passa todo o filme com uma arma apontada pra cabeça enquanto o peão gira, a ponto de se matar imediatamente caso o mesmo não tombe pro lado. Ao deixar o peão rodando e ir ver seus filhos, Cobb se mostra um homem que já não se importa em que realidade está, a única coisa que interessa pra ele é ser feliz revendo suas crianças. O subconsciente já não quer mais saber se aquilo é um sonho ou se é a realidade, o presente e o sentir têm mais valor do que qualquer percepção de plano quer seja real ou imaginário. Não percebi isso na hora, mas agora de certa forma faz sentido não faz?

ATENÇÃO FIM DO SPOILER – a partir daqui pode ler sem medo...

O filme veio suprir a falta de criatividade do cinema atual, utilizando um dos temas mais antigos e complexos do mundo e aliando a tecnologia sem exagerar. Extremamente divertido e bem elaborado, um elenco competente com luz própria, e efeitos especiais que não abusam da boa vontade do espectador.

Christopher Nolan criou um mundo inteiro de sonhos e o destruiu na mesma proporção com imagens incríveis, o final dúbio só caracteriza ainda mais a genialidade deste diretor. A Origem estreou em 16 de julho de 2010 liderando a bilheteria americana e gerando mais de 500 milhões de dólares até o momento deste artigo.

Altamente recomendado a todos os tipos de pessoas e gosto, é certeza de uma experiência incrível e de uma viagem fantástica ao mundo maravilhoso de Nolan. Não perca tempo e garanta seu lugar no cinema. Espere o DVD apenas para ver pela segunda vez e confirmar ou derrubar suas teorias. Apesar de considerar o filme sensacional e realmente o melhor do ano, não me empolgo a ponto de considerar melhor da década, mas sem sombra de dúvidas deixará sua marca na história do cinema.

Qual é o parasita mais resistente? Uma idéia. Uma simples idéia da mente humana pode construir cidades. Uma idéia pode transformar o mundo e reescrever as regras.


1 comentários:

Carina Marques disse...

Concordo totalmente que a informação é muito rapida, quando a menina fala o plano pra ir no limpo e sobre camadas e chutes, uiiiiii muito rapido ahauhauha, pareceu jogo novo que vc não entende a explicação e fala que vai entender jogando, ou seja, vamos lá que depois eu entendo hauhauahauha
Bom comentario, longo como sempre hauahuahau mas eu leio!
Bjs

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